CALVINISMO
E ARMINIANISMO
Capítulo 4
Se quisermos ser ensinados
pelas Escrituras devemos crer que todo Homem é responsável conforme a sua luz.
O gentio é responsável por ouvir a voz da Criação. O judeu é responsável sobre
a base da lei. A cristandade é responsável sobre a base de uma revelação
completa que está contida em toda a Palavra de Deus. Se Deus manda a todos os
Homens em todo lugar, que se arrependam, está dirigindo-se ou referindo-se
somente aos escolhidos? Que direito temos de agregar, alterar, recortar ou
acomodar a Palavra de Deus? Nenhum!
Tomemos as Escrituras tal
como elas são, e recusemos tudo o que não possa resistir à sua prova. Podemos
por em duvida a solidez de um sistema que não é capaz de suportar toda força da
Palavra de Deus em seu conjunto. Se vemos alguma contradição nas passagens da
Escritura a causa é nossa ignorância. Reconheçamos humildemente isto, e
esperemos em Deus para ter maior luz. Este — podemos estar seguros disto — é o
firme terreno moral que devemos ocupar. Em vez de tratar de reconciliar
aparentes discrepâncias, inclinemo-nos aos pés do Mestre e escutemos todos os
seus provérbios. Assim colheremos abundantes frutos de benção, e cresceremos no
conhecimento de Deus e da sua Palavra.
Uns poucos dias atrás, um
amigo pôs em nossas mãos um sermão que havia sido pregado recentemente por um
eminente clérigo pertencente à alta escola de doutrina. Temos encontrado neste
sermão, o que encontramos na carta de nosso interlocutor, os efeitos de uma
teologia torcida que mostra apenas um lado da verdade. Por exemplo, ao
referir-se a essa magnífica declaração de João, o Batista, em João 1:29, o
pregador a cita da seguinte maneira: “Eis aqui o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo, do escolhido povo de Deus”.
Contudo, na passagem não se
diz nem uma só palavra acerca do “escolhido povo de Deus”. Refere-se à grande
obra propiciatória de Cristo, em virtude da qual todo traço de pecado será
apagado de toda a criação de Deus. Nós veremos a plena aplicação desse bendito
texto da Escritura somente nos novos céus e na nova terra, nos quais habita a
justiça. Limitar a passagem ao pecado dos escolhidos de Deus, só pode ser
considerado como fruto do prejuízo teológico, que torce a verdade.
NOTAS
[1] N. do T.— Na
cristandade há dois sistemas teológicos — duas escolas de pensamento —
antagónicos, que devem seu nome àqueles que os formularam pela primeira vez:
arminianismo (de Jacó Armínio [Jakob Hermanszoon], teólogo protestante
holandês) e calvinismo (de João Calvino, reformador francês). Cada um cita um
grupo seleto de textos bíblicos com o fim de sustentar sua postura. O
arminianismo afirma, corretamente, que o Homem é responsável em crer na palavra
de Deus para ser salvo, mas, dessa responsabilidade, deduz, erroneamente, que o
Homem tem uma capacidade própria dentro de si para decidir ir a Cristo: o
chamado “livre arbítrio”. Visto que este sistema faz a salvação depender do
chamado “livre arbítrio”, ele entende a soberania de Deus como um passo inicial
da salvação, mas não como uma eleição soberana de Deus, independente da vontade
do Homem. Sustém que Deus escolhe segundo sua presciência, ou seja, escolhe aos
que Ele sabe de antemão que haverão de crer em Cristo. Uma das consequências
funestas deste sistema é que, ao fazer a salvação depender da eleição humana,
ela pode ser perdida por esse mesmo “livre arbítrio”. A outra escola — o
calvinismo — se apoia em outra série seleta de textos que mostram que a
redenção completa do Homem depende exclusivamente da soberania de Deus, que
escolhe desde a eternidade àqueles que haverão de ser salvos, independentemente
de sua vontade ou conduta, o que, até certo ponto, é correto. Com mais ou menos
variantes no que respeita ao grupo de pessoas que não foram eleitas por Deus
desde a eternidade para salvação (os que ficam no estado de condenação), as
escolas mais extremas do calvinismo deduzem erroneamente que o Homem não é
responsável em crer. Entendendo suas deduções lógicas, o calvinismo extremo
cria assim uma teoria de “reprovação dos incrédulos por decreto eterno de
Deus”, e não pela própria responsabilidade dos que se perdem. O autor trata
este tema com mais detalhe neste artigo: “A responsabilidade moral do Homem
diante de Deus e sua falta de poder”.
[2] N. do A.— É muito
interessante notar a maneira em que a Escritura nos previne contra a repulsiva
doutrina da reprovação. Vejamos, por exemplo, Mateus 25:34. Aqui, o Rei, ao
dirigir-se aos da sua direita, diz-lhes: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei
por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Em
contraste com isto, ao dirigir-se aos da esquerda, diz-lhes: “Apartai-vos de
mim, malditos [note que não diz ‘de meu Pai’], para o fogo eterno preparado
[não para vós, mas] para o diabo e seus anjos”. O mesmo pode ser apreciado no
capítulo 9 da epístola aos Romanos. Ao falar dos “vasos de ira” (v. 22), diz:
“preparados para destruição”, não preparados por Deus seguramente, mas por si
mesmos. Contudo quando menciona os “vasos de misericórdia”, diz: “que ele
preparou de antemão para glória” (v. 23). A grande verdade da eleição é
plenamente estabelecida; mas o repulsivo erro da reprovação é cuidadosamente
evitado.
Extraido
de verdadespreciosas.com.ar